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fevereiro 22, 2011

Culpa

Classificação e gênero


- ORIGINAL
- K, Drama


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   Culpa

  Lamentava-se pelo erro que cometera. O travesseiro estava marcado pelo selo da tristeza. Ele sempre esteve lá, e não o via. Ele sempre a aconselhava, e nunca o ouvia. Ele sempre amou sua pessoa, e jamais lhe deu atenção. Não mais teria seu apoio. Não mais teria seus braços reconfortantes. O amava, contudo, descobrira isso tarde demais. Ele estava morto. A carruagem na qual viajava deslizara vale abaixo. As madeiras partiram-se em múltiplos pedaços transformando-se em perigosas estacas. Todos morreram: ele, o cocheiro e os pobres cavalos. A culpa era sua. Se não tivesse brigado com ele, não teria partido e essa desgraça não ocorreria.

  Palavras duras e odiosas saíram de seus lábios. Como não notara que ele a observara completamente magoado? Idiota! Como pudera ser tão tola a ponto de desprezar aquele que sempre a amou?

  Há dois dias havia descoberto seus sentimentos. Há dois dias ele partira. Há dois dias seu amado farfalhava as próprias asas celestiais.

  - Eric... Deus, o que foi que eu fiz? Daria qualquer coisa em troca de alguns últimos minutos ao seu lado... Eric, eu sinto muito...

  A voz feminina, embargada pelo choro de longas horas, murmurava preces e apelos de desculpas. Sabia que nada adiantaria lamentar-se agora. Isso não o traria de volta. Não sentia disposição em continuar sua rotina. É incrível como a morte de alguém altera o rumo dos destinos. Um alguém que acreditava não fazer a menor diferença em sua vida.


***


  Despertara com a repentina claridade em seu quarto. A luz amarelada extinguiu-se tão subitamente quanto chegou e a imagem de um homem com extensas asas brancas postava-se junto à janela.

  Cabelos castanho-claros, olhos intensos e profundos da mesma cor. Feições carinhosas e físico bem trabalhado. Lágrimas umedeceram sua face diante o reconhecimento do ser celestial.

  - Não chores mais, Taylor. Estou aqui. – aproximou-se do leito à sua frente. – Não há mais motivos para que elas interfiram em tua beleza, neste momento. – sentou-se na cama e cariciou o rosto da amada.

  - Eric... eu...

  - Shhhh... não diga nada... todo o teu sofrimento é escutado no Reino do Céu. – trouxe a moça junto ao seu corpo, acariciando os longos cabelos negros, enquanto aliviava sua dor chorando no ombro do amado, molhando a túnica esverdeada. – Ele ouviu todas as tuas preces e consentiu-me visitar-te.

  - Por quanto tempo? – indagou sem fitar seus olhos.

  - Um quarto de hora.

  - Apenas um quarto? – abraçou-o mais forte.

  - Não é permitida a presença de arcanjos no plano terrestre. Tu és especial, Taylor. Ele teve piedade de ti. – com dois dedos, ergueu seu queixo forçando um contato visual.

  - Ainda me amas? Por isso vieste?

  O tímido beijo fora o suficiente para dispersar suas dúvidas. Taylor apoiava os braços nos ombros do anjo, enquanto este enlaçava sua cintura com seus membros superiores, aprofundando o ósculo. Acariciava os fios curtos cor de cobre delicadamente. Sentia as mãos celestiais percorrerem sua coluna. Apartaram o beijo quando a moça necessitava de ar. Eric apreciava a visão de Taylor levemente corada e ofegante. Sorrindo, com as pontas dos dedos, contornou os traços faciais da amada.

  - Amo-te tanto que seria teu mentor se pudesse. Todavia, tu já tens um.

  - Seu eu não tivesse dito aquelas palavras, tu ainda estarias vivo e viveríamos juntos.

  - Taylor, pára de te culpar. Foi apenas um acidente. Nada é por caso, minha amada. Para tudo há uma razão de acontecer.

  - E qual foi a razão de teres deixado este mundo?

  - Sinto dizer, mas não posso contar-te. Tudo no teu tempo certo, querida.

  O badalar de um sino soou ao mesmo tempo em que a luz amarelada ressurgiu.

  - Devo-me ir agora. Não esqueças: estarei eternamente presente em teu coração. Prometa-me que seguirá tua vida, mesmo depois de eu ter partido.

  - Não posso fazer isso. Trairia tua pessoa.

  - Minha pessoa não existe mais. Quero que sejas feliz, Taylor. Ainda és jovem e atraente. Siga tua vida e não pára por minha causa. Não vivo mais neste mundo. Não pensa no 'se', não faz bem para a alma.

  - Está certo. Prometo seguir minha vida.

  - Amo-te.

  Com um suave beijo, o arcanjo retorna ao seu novo mundo.

  - Eu também...

  Deitou-se novamente em seu leito, agora com a certeza de que finalmente dormiria em paz.


 
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  Hi everybody!

  Hoje, como não fui às aulas da faculdade - devido a crises e mais crises de febre durante a noite, terrivelmente mal dormida -, decidi fuçar nas tralhas do meu computador e fazer AQUELA limpeza que só lembramos de fazer quando o rendimento do eletrônico caí para abaixo do nível insatisfatório. Dentre os lixos que vasculhei, encontrei esse pequeno texto. Lembro que o fiz em 2007, durante uma das aulas de Física na sala de Smartboard do colégio. Me trouxe muita nostalgia do tempo em que os estudos só serviam para passar de ano e receber recompensa monetária dos pais por causa disso. Sinto falta da convivencia rotineira com meus amigos, as fofocas eventualmente escutadas pelas meninas enxeridas da sala e os momentos tensos dos garotos populares a se exibirem à frente da turma nos intervalos entre aulas.

  Espero que gostem do escrito, mesmo que ele não tenha nada a ver com minha saudade.

  Beijos a todos

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